Zé e Xin são dois homens de idades quaisquer que conversam na mesa de um botequim localizado no Rio de Janeiro. Sabem de tudo, ao mesmo tempo que não sabem de nada. São conversadores e filósofos de bar. Surgirão aqui algumas das conversas deles. Boa leitura, ler faz bem.
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30/07/12
- Xin, por que você tá me olhando assim?!
- Zé... Você está fazendo os mesmos gestos daquela sua antiga namorada. A forma de beber entreolhando quem está longe, a mão... as duas mãos. A expressão da sua cara quando para de beber e degusta a cerveja...
- É mesmo?
- É. Totalmente.
- E por que será, hein?
- Não sei, mas foi muito estranho...
- Pode ser aquele lance de mistura de personalidades... Convive muito com a pessoa, e adquire certas manias dela.
- Mas você ficou com ela por 1 ano e alguns meses, não foi?
- Foi.
- E com a sua ex-esposa foram 4 anos, não foi?
- Foi.
- Se for essa troca por convívio você deveria ser chato que nem ela, mas não é. Você parece com a outra, de anos atrás...
- Verdade, Xin.
- Uma vez eu li que quando duas pessoas têm relações sexuais, há uma troca de energia.
- Como assim, Xin?
- No livro dizia que esse grau de intimidade é a conexão mais forte que duas pessoas podem ter, como se as duas pessoas deixassem detritos espirituais uma na outra.
- Mas onde quer chegar com isso?
- Quanto mais você interagir intimamente com alguém e mais profunda será sua ligação. Zé, diga-me. Você transou mais com essa antiga namorada em alguns meses do que com sua ex-mulher ao longo dos anos, não foi?
- Sem sombra de dúvidas. Eu era mais novo, também. Como sabe disso, Xin?
- Eu via no seu sorriso, Zé.
- Hum... É. Ela me deixava bem feliz. Bom, então você quer dizer que eu tenho "detritos espirituais" dela em mim?
- É a única explicação. Percebendo agora, Zé, você sempre teve essas manias dela, mas só agora associei a ela.
- Curioso isso.
- Muito.
- Por isso o Sandrão é tão confuso...
- Desculpa, não entendi, Zé.
- Sandrão vivia com tantas mulheres, com várias e sem critério. Ele absorveu várias energias e se tornou esse cara esquisito que é hoje.
- É. Ele é meio maluco mesmo. Faz sentido.
- Que coisa.
- Por isso eu sempre digo, nunca durma com alguém que você não gostaria de ser. Simples assim.
- Você é sábio, Xin.
- Que nada. Isso foi só um livro. Pode ser mentira, ninguém é dono da verdade.
- Eu sei, eu sei...
- Se fosse assim, a esposa do Einstein seria uma grande física!
- Hahahaha! Você tinha que fazer piadinha, Zé...
- ...
- ...
- Seria interessante trocar energias espirituais com aquela morena ali.
- Seria, Zé.
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24/07/12
- Xin.
- Oi, Zé.
- Que bom que vivemos nessa época de liberdade né?
- Como assim, Zé?
- Ora, poder sentar aqui, beber nossa cerveja, fumar nosso cigarro, liberdade para gritar gol, ou dar uma piscada para a moçoila do outro lado...
- É, Zé...
- Que foi? Não concorda comigo?
- Na verdade não.
- Por que, Xin?
- Zé. Você paga imposto?
- Pago sim, Xin.
- Você quer pagá-los? Ou você é obrigado a pagá-los?
- Olha, Xin... Sou obrigado... Mas o faço em troca do conforto que me é dado.
- Hum. Conforto.
- É... Conforto. Aff! Você tem razão.
- Zé, agora imagine que você não quer mais pagar. Você ficará livre, Zé? Ou seria despejado, ou preso?
- Xin, no fundo eu poderia não pagar. Virar um hippie. Eu tenho essa escolha, sou livre sim. Posso largar tudo e virar nômade. Andarilho... De certa forma é escolha minha pagar e ter essa vida...
- Não é não, Zé.
- Mas claro que é. Só é mais difícil levar essa vida...
- Será?
- Poxa, Xin. Você me confunde às vezes.
- Zé. Quando você nasceu, perguntaram se você queria que as leis do seu país fossem essas que são? Perguntaram se você queria pagar imposto? Perguntaram se...
- Não sou livre, já entendi. Concordo.
- ...
- Mas já foi muito pior.
- Depende de quando é esse "já foi".
- Xin, ninguém me perguntou se eu concordo com as leis do Brasil. E mesmo assim sou obrigado a cumprí-las. Meus direitos e deveres são rotulados na minha vida sem a minha permissão! Isso é um absurdo. Vivemos uma ditadura, Xin!
- É a vida que o homem escolheu...
- Ou é a que, cedo ou tarde, tomaria o rumo que tomou.
- Disse tudo.
- Mas que injustiça.
- Injustiça é esse copo vazio...
- Obrigado.
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16/07/12
- Zé, eu fiquei pensando...
- O que, Xin?
- Nos filmes de terror, ou desses que aparecem espíritos, alguns espíritos ultrapassam as paredes, não é verdade?
- Sim.
- Se eles atravessam paredes, é por que eles conseguem "ultrapassar" qualquer objeto, não é?
- É...
- Então por que eles usam roupas, Zé? Roupas são objetos...
- Você tem razão, Xin...
- E tem mais... Se eles ultrapassam paredes, por que conseguem andar sobre o chão? O chão não é diferente da parede ou da roupa que eles usam. São coisas sólidas... Um grande furo, não acha?
- Verdade, Xin. Mas e se eles conseguem escolher o que vão "ultrapassar" ou não? E se for muito mais complexo?
- Não sei. Seria como? "Agora eu não vou conseguir tocar a maçaneta da porta, mas a minha roupa vai ficar em mim, para eu não ficar nu no filme." ?
- Hahaha! Verdade, Xin. Até porque nesses filmes mostram os espíritos, e o que seria espírito? Nosso espírito não tem roupa.
- Pois é! Mas talvez seja algo representativo... Aquela pessoa morreu com aquela roupa, vai ser assim por toda eternidade...
- Xin, quer dizer que eu tenho que escolher uma roupa bonita para aparecer bem como espírito... Isso se eu for aparecer para alguém...
- É, Zé. Pelo jeito é assim... Mas você tá sempre com a mesma roupa aqui no bar comigo... Não faz diferença...
- Xin, tinha que falar das minhas roupas...
- Roupas não... Roupa!
- ...
- Seria você um espírito?
- Já chega, Xin. Pelo menos tomo banho todo dia.
- Não, você não é um espírito. Aquele dia que você dormiu no hall do seu prédio por ter esquecido a chave, você poderia ter passado pela porta. Você não é um fantasma.
- ...
- E eu tomo banho todo dia, só suo muito.
- Eu não passei pela porta por que meu corpo ia passar, mas a roupa ia ficar. Sou um espírito sim.
- A gente já bebeu muito...
- É.
- Melhor irmos.
- Garçom, a conta, por favor!
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14/07/12
- Xin, me diz uma coisa.
- Diga, meu amigo...
- Como um cego sabe a hora de parar de limpar a bunda depois de... você sabe... de cagar?
- Zé.. Boa pergunta...
- ...
- ...
- Pelo cheiro, talvez.
- Mas pelo cheiro? Ele pega o papel sujo e cheira??
- Pense comigo, Xin. Ele não tem o sentido da visão. Pelo que sei, os outros sentidos naturalmente se aguçam por questão de sobrevivência. Ele vai usar o olfato para sentir se tá limpo ou não...
- Mas Zé, como pode?
- O que, Xin?
- Aquele lugar fede independente do que "sái" dali.
- Pos é...
- Acho que não. Acho que para eles o cheiro é característico. Eles devem saber se tem merda ou não!
- É!! É!! O cheiro é diferente...
- Mas deve ser chato né... Ficar cheirando o que você limpou...
- Xin...
- Oi.
- E se eles usarem outro sentido? E se eles usarem o tato?
- Eeeca, Zé! O tato? Você quer me dizer que eles sabem a hora de parar de limpar a bunda encostando o dedo no papel sujo de cocô?
- É.
- Pode ser...
- Mas olha aquele cara ali na outra mesa... Todo esquisito...
- Zé, pára de olhar os outros, cada um é cada um... Mas olha aquela menina linda ali...
- Nossa... Linda!
- ...
- Eu acho que eles pedem para alguém limpar.
- Também acho, Zé.
- Só assim...
- Deve ser, só assim. É o jeito mais fácil.
- Xin. Vamos mudar o assunto?
- Vamos, por quê?
- Por que eu to olhando a moça linda e a gente tá falando de como o cego limpa a bunda...
- Garçom! Vê mais uma, por favor!
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13/07/12
- Rapaz... olha que morena linda passando ali...
- É. Genial...
- Genial, Zé?
- É, não deixa de ser uma genialidade da natureza.
- Haha. Tem razão... Queria me casar com a Jennifer Aniston, ela é linda demais, e tem um jeitinho sensual e charmoso.
- Que bom, Zé.
- E você, Xin?
- Que tem eu?
- Que mulher você gostaria de casar?
- Casar? Não quero casar. Mas se eu fosse casar, seria a Angelina Jolie.
- Por quê?
- Por que ela tem uma mente admirável no mundo de hoje. Ela trabalha muito bem como atriz, tem 3 filhos adotivos, além dos 3 biológicos, promove causas humanitárias e, além de tudo, consegue ser linda.
- Não acho tão linda assim...
- Ela é linda sim, e tem um corpo muito bem tratado.
- Ela é bi, Xin.
- Ela é o que?
- Ela é bissexual assumida. Se você casasse com ela poderia ser traído e trocado por outra mulher.
- Ela tem a mente aberta, Zé. Isso sim. Ela alcança o auge da perfeição.
- Você pode estar parcialmente certo. Mas prefiro minha “Rachel”.
- Acho a Jennifer bonita, mas você perguntou sobre casar... e definitivamente seria a Jolie. Ela acrescentou muita coisa à vida do Brad Pitt.
- Brad Pitt...
- ...
- Eu queria é ser ele que já transou com as duas...
- Boa.